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sábado, outubro 1

"Amor, este espaço deixou de ser só teu!"

Sou casado. E feliz. É certo que estou casado apenas à três anos mas sou feliz. E sei que vou continuar a sê-lo. Como já aqui falei uma vez, vivi sózinho durante 12 anos. Habituei-me a ter o meu espaço, os meus hábitos e as minhas manias. Entrava em casa ás horas que queria e saia quando me apetecia. Não respeitava horários a não ser os do trabalho e esses eram só durante a semana. Gostava de chegar a casa, ligar "um som" e mandar-me para o sofá até à hora do jantar, que nunca tinha hora.

Após esse periodo mais conturbado da minha vida, casei-me. "Fartáste-te de estar bem" disseram-me muitos. Mas não. Encontrei uma miuda, apaixonei-me por ela e pedi-a em casamento. Convenci-me de que ela era "a tal" e ainda hoje acredito nisso. Comprámos um apartamento e assentámos os trapinhos no verão de 2002. Claro que nunca nada é tão fácil nem tão linear como se conta mas para já, esta é a parte que interessa.

Depois disso, como é óbvio, a minha vida mudou bastante. Não é por ter casado, claro que as noitadas até podiam ter continuado mas, pode-se dizer, que de certa forma perderam o significado. Já não havia aquele instinto, aquela idéia preparada, o não olhar para o relógio, etc. Esta alteração vivi-a até com certa indiferença porque claro que não procurava nada que já tinha encontrado. Não precisava de certas coisas que fazia antigamente e se calhar até preferia ficar com a minha esposa a ver um filme no sofá da sala, os dois muito aconchegadinhos um ao outro. Também já não ouvia a música tão alta, porque estes vizinhos e estes prédios novos são diferentes daqueles onde antes morava. O jantar passou a ter horas marcadas e a hora de saida começou a ser igual quase todos os dias.

Felizmente, e não digo isto apenas porque sei que ela costuma ler este blog, continuo a achar que ela me completa. A ideia de deixar de viver sozinho assustava-me. Falavamos muito sobre isso (e ela ter de deixar de viver com os pais) antes de casar. O adaptarmo-nos um ao outro, ao principio, era visto como uma possivel fonte de problemas que queriamos prever a qualquer custo. Mas felizmente, tudo correu bem. Foi fácil até. Não houve problema. Se me apetecesse sair, ela também vinha e vice versa. Raramente faziamos qualquer coisa sózinhos e muito menos contrariados. Até a levei a acampar uma vez e ela até me levou a ver um jogo de futebol ao estádio da Luz. Apenas uma vez ela me disse que se eu quisesse ir, para ir, que ela não ia. E foi ao grande concerto dos U2. Mas sem ela, não havia vontade. E não fui.

Agora vamos aumentar o agregado familiar. Quer dizer, vamos deixar de ser dois e vamos passar a ser três. Claro que existem sempre aqueles receios do primeiro filho. Será que vai correr bem, será que vai correr mais ou menos, como é que ele será, etc. E preparámos o apartamento para a chegada de tão ilustre membro. E no outro dia ouvi uma frase que por instantes me abalou. "Amor, este espaço deixou de ser só teu!" Não sei porquê mas esta pequena frase "mexeu" comigo. Claro que seria sempre fácil eu a minha "cara metade" adaptarmo-nos um ao outro. Mas quando falamos de um novo ser como é que será? Ainda por cima um bebé. Aqueles pequenos seres com identidade própria em que, pelo menos enquanto são pequenos, temos que seguir as regras deles.

Esta frase não é assim tão simples nem tão inocente como isso. Quer dizer que, depois de se terem acabado as noitadas, até o ficar aconchegado a ver um filme tem os dias contados. Que acabaram-se os sábados na cama até tarde e como diria alguém num blog que visitei em tempos: "A minha filha faz hoje 4 anos. Isso quer dizer que só já faltam vinte anos para poder voltar a fazer amor pela casa toda com a minha mulher".

Os amigos e familiares animam-me: "A tua vida nunca irá voltar a ser como era". E a eles nem lhes passa pela cabeça como foi. Mas cá estaremos. Um dia a seguir ao outro. Prontos para mais uma aventura. E como sempre, com um sorriso nos lábios e preparado para o que der e vier. Agora já posso dizer que sou um Homem. Já plantei uma árvore, já escrevi um livro e já fiz um filho. Gostava de ler o que ele irá escrever no blog dele daqui por 33 anos.