Lilypie Kids birthday Ticker
Lilypie 1st Birthday Ticker

segunda-feira, março 31

"Eu não pedi para nascer!"

Este fim de semana foi ... diferente. Foi mais calmo, mais sossegado e decididamente mais silencioso. Depois de uma manhã de sabado extremamente atribulada com uma saida do parque de baloiços literalmente "em braços", a espernear e barafustar por todo o lado, o Rodrigo foi passar o fim de semana com os avós maternos. Claro que não foi de castigo nem foi porque se portou mal. Já estava combinado á algum tempo e ele adora ir para lá (tem espaço para correr, tem os cães para brincar, tem a bola para jogar e melhor ainda, tem campo com fartura para andar á vontade). Mas desta vez, e pela segunda vez (ou terceira, não me lembro bem mas foram muito poucas) desde que nasceu, ficou lá a dormir e nós viemos embora. Despediu-se bem, sem choros, ficou parado ao portão a fazer adeus e a dizer até amanhã. Ficou tão bem que chegou a ser angustiante. Mas foi a forma de ficarmos mais descansados pois assim sabemos que ficou bem. Ficou com a avó que ficava com ele antes de ir para a creche, com o avô e com os bisavós. Tudo gente que o Rodrigo gosta bastante, e que gosta muito dele.

Depois disso pensámos, vamos tirar um bocadinho para nós, relaxar, sem pressas nem corridas. Vamos aproveitar para fazermos umas comprinhas. Estivemos quase duas horas (sim, duas horas) no Toys 'r us e mais meia hora na Feira do Bebé, no Jumbo. Ainda fomos á Chicco, á Zippy e á Imaginarium. Acho que é a isto que se chama dificuldade em cortar o cordão umbilical. A tal tarde para andarmos a passear, sem pressas e sem corridas transformou-se numa tarde de compras para o "pirralho".

No meio de toda esta azáfama, em que a imagem do Rodrigo, ao portão a fazer-me adeus nunca me saiu da cabeça, ouço uma conversa de uns pais para uma filha da idade do meu: A mãe: "Nem penses que te compro mais qualquer coisa. Tu só levas as fraldas" e o pai a rematar: "Só para ti é um ordenado". A ideia de culpa assolou-me a mente quando vi o olhar triste da menina. E eu abandonei o meu filho, lá com os avós! "Despachei-o" literalmente, para poder ter um fim de semana com a minha esposa. "Vai-te lá divertir para casa dos teus avós que eu vou passear com a tua mãe". Independentemente de saber que raramente faço isto, que ele ficou bem e que passei a tarde a comprar coisas para ele (mais brinquedos, prendas, roupa, etc) que nunca conseguiria comprar se ele viesse também. Por uns instantes senti-me igual aqueles pais, que acusavam a filha de lhes ficar com metade do vencimento mensal do agregado. Lembrei-me de histórias do antigamente em que se acusavam os filhos de tudo o que corria de mal e se "desabafava" em cima deles frustrações de quem não podia dar tudo o que queria aos seus. E lembrei-me de promessas antigas em que havia uma lista enorme de coisas que nunca diria a um filho meu (tirando aquela famosa do "enquanto tiveres debaixo do meu tecto sou eu que mando", que já lhe disse na brincadeira). Não por causa da minha infância, que felizmente não passei nem mais nem menos que outra criança qualquer. Lembrei-me de tanta coisa e muita coisa. E dele, a fazer adeus ao portão. Acabámos as compras por ali e fomos á procura de um restaurante. Acabámos por jantar ao pé de casa e ás 22h30 já tinhamos chegado. Não foi, obviamente, por causa do que se passou, apenas apetecia-nos mais descansar do que qualquer outra coisa. Comentámos o que se passou e acho que nem voltámos a falar nisso. Jantámos, descansadamente, passámos por um bar e fomos para casa.

No domingo acordámos tarde, sem choros nem birras, despachámo-nos e fomos almoçar com os meus sogros. Pensei várias vezes como seria recebido pelo Rodrigo, com aquela indiferença dele de quem não dá confiança a ninguém, com um abraço e depois a querer contar tudo o que fez no fim-de-semana ou de muitas outras maneiras. Nunca imaginei o que aconteceu. O "puto" esteve quase um quarto de hora agarrado ao meu pescoço a encher-me de beijos. A dar abraços, cabeçadas, festas, agarrado ás pernas, ao pescoço, ás bochechas e aos braços. Com uma alegria e uma saudade que nunca tinha visto nele. E pensei que tudo na vida vale a pena por estes pequenos momentos. O dinheiro que eu gasto com o Rodrigo, eu gasto porque quero e porque um dia quis que ele nascesse. Se não gasto mais é porque não posso e porque a vida não me permite. Obviamente que acabamos por abdicar de algumas coisas em prol do Rodrigo mas nunca me vou virar para ele e culpá-lo por não poder ter isto ou aquilo porque ele existe. Porque também isso foi por opção minha. Não pretendo ser mal entendido nem dizer que uns são melhores que outros ou que têm mais que outros, não é nada disso. Apenas que há coisas que não se dizem. Principalmente a "eles", que não têm culpa nenhuma desta vida de correria que os pais levam. A única coisa que o Rodrigo me pede e o que ele me diz mais vezes é para eu ir brincar com ele. A jogar á bola, com os legos ou só para lhe ler uma história. E muitas das vezes a unica coisa que ele precisa é de um bocadinho de atenção e de um sorriso. E isso, a última vez que vi, era de borla.