...vai ser um empresário de sucesso. Com ele tudo tem que ser negociado. Rodrigo faz isto, Rodrigo faz aquilo. Se ele não estiver para aí virado nada vale a pena. Para terem uma ideia, quando ele nasceu, eu cortava-lhe as unhas todas as semanas. Há medida que foi crescendo, começou a fazer-se de esquisito. Até um dia, com ano e meio, em que não me deixou cortar-lhe as unhas. Foram dias complicados pois arranhava-se a ele e aos outros. E faziam festinhas que aleijavam bastante. Um dia lembrei-me e disse-lhe: Rodrigo, se deixares o papá cortar-te as unhas, dou-te um rebuçado. Apartir daí, cada vez que lhe digo que precisa de cortar as unhas, manda um grito a dizer "beiatado" (rebuçado em Rodriguês), vai a correr para o sofá da sala, e até arranca as meias dos pés. Depois fica á minha espera, com aquele seu sorriso de malandro.
Mas não é só com as unhas. O Rodrigo é assim com tudo. Com o banho, com a fralda, com os seus pequenos rituais do dia-a-dia em que vai intercalando as suas pequenas conquistas com muita brincadeira á mistura. Claro que por vezes tem os amuos e birras como qualquer ser humano, mas quando perdemos um pouco de tempo e lhe explicamos as coisas, ou quando fazemos os nossos recuos para que ele perceba que também tem de ceder, as coisas ficam resolvidas. E quando nós não queremos ceder ele arranja maneira de nos dar a volta. Como uma vez que eu estava a ralhar com ele por causa de uma coisa que ele tinha feito e ele se virou para mim e apenas disse assim: "papá, papá, o shpoting é munito!!" Será possível resistir a isto?
Outro excelente exemplo passou-se há cerca de 1 mês, quando fui com ele tirar fotografias. Ele não queria (não gosta de confusões e fecha-se um bocado quando não está á vontade. Isto nos primeiros 5 minutos que ele poe-se á vontade muito depressa) e quando lá chegamos, eu sentei-me na cadeira para tirar e ele sentou-se num banquinho de bebé que estava lá mesmo ao lado. Quando chegou á vez dele, queria tirar ali mesmo, naquele banco. E estava a preparar-se para se recusar a sair dali. Expliquei-lhe com um ar extremamente calmo que os paineis que estavam ali ao lado e as luzes apenas apontavam para a cadeira grande e que ele teria que se sentar na outra cadeira onde eu me tinha sentado. Levantou-se logo de seguida e dirigiu-se á outra cadeira, onde ficou quieto e sossegado enquanto a senhora lhe tirou as fotografias que quis. Digam lá que ele não ficou um espectáculo? Ás vezes acho que é dificil um pai ser mais orgulhoso e baboso com o filho.
Claro que também existem alturas bastante dificeis de lidar com ele em que faz birras de se mandar para o chão mas acho que se pararmos para pensar que ele tem apenas os seus 28 meses, vimos que são tipicas da idade. E próprias de alguém que está a tentar ganhar o seu espaço e impor-se neste mundo complicado. Acho que cabe-nos a nós, pais e educadores, saber lidar com isso da melhor maneira, com razoabilidade e sem tiranias. (Se o meu chefe me mandar fazer uma coisa e eu não perceber o porquê disso ou se achar que se fizer da minha maneira posso obter os mesmos resultados, porque não fazê-lo como eu quero? Se nós, adultos somos assim, porque não dar o beneficio da duvida ao petiz? Desde que fique feito!). E acima de tudo, sempre negociando. Se queres algo tens que dar em troca. Estimula-o e ele fica feliz por conseguir o que quer. E nós também. Agora, se não fizer o que deve, fica de castigo e não vai brincar para o terraço. E não vai mesmo, não é dizer que não vai e cinco minutos depois estarmos a correr e a jogar á bola com ele lá fora.
Outro dos motivos a não esquecer é que o malandrinho é escorpião e por muito que me custe, conheço muito poucos homens deste signo que tenham um feitio simples e trato fácil (não quer dizer que tenham mau feitio ou que sejam más pessoas, muito pelo contrário, apenas que não são pessoas simples e sim excelentes "negociadores").
Por isso eu digo, que se não for político, há-de ser um empresário de sucesso. Ou então advogado. Agora uma coisa eu já sei. Quase de certeza que não vai ser jogador de futebol. É que com apenas dois anos e quatro meses já sabe contar até dez, conhece algumas cores e tem um vocabulário (de Rodriguês, obviamente) bastante grande. E dá a volta ao texto cá com uma pinta...
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